Comentário de Evangelho: João

04/12/2006

 

Autoria
A antiga tradição da igreja atribui o quarto evangelho a João “o discípulo a quem Jesus amava” (13.23; 19.26; 20.2; 21.7,20), que pertencia ao “círculo íntimo” dos seguidores de Jesus (Mateus 17.1; Marcos 13.3). De acordo com escritores cristãos do séc. I d. C., João mudou-se para Éfeso, provavelmente durante a guerra Judaica de 66-70 d. C., onde continuou seu ministério.
  
Data
A mesma tradição que localiza João em Éfeso sugere que ele escreveu seu Evangelho na última parte do séc. I d. C., possivelmente entre 85 e 90. Na falta de provas substanciais do contrário, a maioria dos eruditos aceitam esta tradição.
  
O Evangelho 
É bem provável que João conhecesse as narrativas dos outros três Evangelhos, já que parece ter sido o último a apresentar seu texto. Assim, já conhecendo outros textos, ele escolheu não seguir a sequência cronológica de eventos. Nesse caso, ele pode ter usado as tradições literárias comuns e/ou orais. Além disso, há em João uma forte influência da filosofia da época, o que nos mostra a diversidade que o Espírito Santo pode usar para atingir os propósitos do Senhor.
 
O esquema de João é o mesmo no geral e alguns acontecimentos em particular do ministério de Jesus são comuns a todos os quatro livros. Algumas das diferenças distintas são: 1) Ao invés das parábolas familiares, João tem discursos extensos; 2) Em lugar dos muitos milagres e cura dos sinóticos, João usa sete milagres cuidadosamente escolhidos a dedo que servem como “sinais”; 3) O ministério de Jesus gira em torno das três festas da Páscoa, ao invés de uma, conforme citado nos Sinóticos (os outros 3 Evangelhos); 4) Os ditos “Eu sou” são unicamente joaninos.

João divide o ministério de Jesus em duas partes distintas: os capítulos 2-12 dão uma visão de seu ministério público, enquanto os capítulos 13-21 relatam seu ministério privado aos seus discípulos. Em 1.1-18, denominado “prólogo”, João lida com as implicações teológicas/filosóficas da primeira vinda de Jesus. Ele mostra o estado preexistente de Jesus com Deus, sua divindade e essência, bem como sua encarnação.
  
A revelação do Senhor
O livro apresenta Jesus como ó único Filho gerado por Deus que se tornou carne para dar aos que O receberem o poder de se tornarem também filhos de Deus (1.12). Para João, a humanidade de Jesus significava essencialmente uma missão dupla: 1) como o ”Cordeiro de Deus” (1.29), ele procurou a redenção da humanidade; 2) Através de sua vida e ministério, ele revelou o Pai. Os milagres que Jesus realizou como “sinais”, testemunham a missão divina do Filho de Deus.
  
O Espírito Santo em Ação
A designação do Espírito Santo como “Confortador” ou “Consolador” (14.16) é exclusiva de João e significa literalmente: “alguém chamado ao lado”. Ele é “outro consolador”, isto é, alguém como Jesus, o que estendeu o ministério de Jesus até o final desta era. Seria um grave erro, entretanto, compreender o objetivo do Espírito apenas em termos daqueles em situações difíceis.
 
Ao contrário, João demonstra que o papel do Espírito abrange cada face da vida. Em relação ao mundo exterior de Cristo, ele trabalha como o agente que convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (16.8-11). A experiência de ser “nascido no Espírito” descreve o Novo Nascimento (3.6). Como, em essência, Deus é o Espírito, aqueles que o adoram devem fazê-lo espiritualmente, isto é, conforme comandado e motivado pelo Espírito Santo (4.24).

João revela a função do Espírito Santo em continuar a obra de Jesus, guiando os crentes, além de um entendimento dos significados, implicações e imperativos do evangelho e capacitando-os a realizar “obras maiores” do que aquelas realizadas por Jesus (14.12). Aqueles que crêem em Cristo hoje podem, assim, enxergá-lo como um contemporâneo, não apenas como uma figura do passado distante.
  
Esboço de João 
Prólogo 1.1-8

I. O ministério público de Jesus 1.19-12.50
  Preparação 1.19-51
  As bodas em Caná 2.1-12
  Ministério em Jerusalém 2.13-3.36
  Jesus e a mulher samaritana 4.1-42
  A cura do filho de um oficial 4.43-54
  A cura de um paralítico em Betesda 5.1-15
  Honrando o Pai e o Filho 5.16-29
  Testemunhas do Filho 5.30-47
  Ministério na Galiléia 6.1-71
  Conflito em Jerusalém 7.1-9.41
  Jesus, o bom Pastor 10.1-42
  Ministério em Betânia 11.1-12.11
  Entrada triunfal em Jerusalém 12.12-19
  Rejeição final: descrença 12.20-50
 
II. O ministério de Jesus com os discípulos 13.1-17.26
  Servir - um modelo 13.1-20
  Anúncio da traição e da negação 13.21-38
  Preparação para a partida de Jesus 14.1-31
  Produtividade por submissão 15.1-17
  Lidando com rejeição 15.18-16.4
  Compreendendo a partida de Jesus 16.5-33
  A oração de Jesus por seus discípulos 17.1-26
 
III. Paixão e Ressurreição de Jesus 18.1-21.23
  A prisão de Jesus 18.1-14
  Julgamento perante o sumo sacerdote 18.15-27
  Julgamento perante Pilatos 18.28-19.16
  Crucificação e sepultamento 19.17-42
  Ressurreição e aparições 20.1-21.23
 
Epílogo 21.24-25

 

Forte abraço.
Em Cristo,
Ricardo, pastor

Esta meditação foi enviada em 04/12/06 por e-mail.